17:53Censurar o que diz Lula ou Bolsonaro é achar que as pessoas não sabem pensar

por Ricardo Araújo Pereira

Quando proibimos a expressão de mentiras, mais tarde ou mais cedo também calamos quem diz a verdade

Primeiro, o YouTube alterou a sua política e excluiu um vídeo em que Bolsonaro atacava o sistema eleitoral, baseando-se em falsidades, e fazia ameaças golpistas.

Depois, um ministro do Tribunal Superior Eleitoral mandou apagar do YouTube um vídeo em que Lula chamava Bolsonaro de genocida.

Agora é só prosseguir esta prática até ficarmos todos calados. Fica claro, mais uma vez que, quando proibimos a expressão de mentiras, mais tarde ou mais cedo também calamos quem diz a verdade.

Mas talvez seja melhor assim, porque a verdade às vezes até incomoda mais do que a mentira. Devemos agradecer imensamente que o YouTube e o juiz decidam aquilo que nós podemos e não podemos ver. Como se sabe, nós somos uma espécie de vegetal, desprovido da capacidade de raciocinar e que adere imediatamente a toda e qualquer tese que seja tornada pública.

Os nossos benignos protetores evitam que nós possamos saber o que diz o presidente da República e um ex-presidente que concorre novamente ao cargo. A melhor forma de ficarmos bem informados para poder exercer o nosso direito de voto é nos impedirem de saber o que dizem os dois principais candidatos às próximas eleições.

Tanto o juiz como os responsáveis do YouTube viram os vídeos. Eles conseguem vê-los sem que lhes aconteça nada. São capazes de olhar a Medusa nos olhos sem ficarem transformados em pedra —habilidade que nós não temos, como eles corretamente supõem.

É essa superioridade que lhes dá o direito de determinar o tipo de discurso a que nós podemos ter acesso em segurança. Certos filmes são para maiores de seis anos, outros para maiores de 18. Algumas palavras de presidentes e ex-presidentes da República são interditas a qualquer idade.

Ninguém tem a maturidade suficiente para ouvi-las. Infelizmente, receio que apagar os vídeos possa não ser suficiente. Ou até inútil. Primeiro, porque algumas pessoas já os viram. Segundo, porque o seu conteúdo é referido nas notícias.

Quando os jornais dizem que “YouTube apagou vídeo em que Bolsonaro mentiu sobre as urnas eletrônicas e repetiu ameaças golpistas”, ou que “ministro manda apagar discurso em que Lula chama Bolsonaro de genocida”, ficamos a saber o mesmo que saberíamos vendo os vídeos. Assim, não conseguem nos manter completamente na ignorância, o que é uma pena.

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