Pediu água com gás. Não tinha. Garrafas e garrafas de vinho e espumante eram servidas. Tomou um copo do líquido saído do tubão azul. Sem problema. Há quase meio século sem beber, circulou no salão, abraçou velhos amigos e, claro, como sempre, alguém perguntou por que não bebia. Respondeu na lata: alcoólatra não bebe – se faz isso, morre, ou pior, mata. Outro replay dessas ocasiões: um vem e pergunta como ele consegue ficar sem. Ele responde seco: para sobreviver. Então, para encerrar, antes de ir embora, quando os mais afoitos já estavam no Genésio do Jesus, alguém lembrou uma história dele, do tempo em que o apagamento já era uma constante. Acharam o telefone de um amigo. Ligaram e pediram para ir salvá-lo na bar. Foram em dois. Estava sozinho numa mesa – com dez copos na frente. Cinco vazios. Os outros ainda à espera. Fez isso para demorar mais e não ser colocado pra fora do estabelecimento. Reconheceu os amigos. Tomou os cinco finais, pagou a conta. Ele não lembrava dessa. Gostou que contassem – para reforçar a abstinência.