por Bernardo Carvalho
… A democracia é o regime da responsabilidade humana. Ela é resultado do debate de responsabilidades entre os homens, não da delegação da culpa para o Além, por interesses demasiado humanos.
A democracia é um ajuste de imperfeições, nunca a justificativa destas pela atribuição de perfeição a um deus inquestionável. Na democracia, a força divina está dividida na pluralidade antagônica dos homens. Não é o lugar da moral prescritiva e punitiva, mas da ética. Não é o lugar de um Deus acima de todos, mas da “humildade diante do real, diante da existência não domesticável”. É aí que os homens têm afinal a chance de mostrar a que vieram e o que realmente valem.