17:26ZÉ DA SILVA

Veio a turba. Apertei o controle do portão. Na frente tinha um marombado com uma bandeirinha na mão. Ele sorria. Quanto a ponta da botina cruzou a linha de demarcação entre o terreno do lar doce lar e a rua, mirei e acertei o joelho dele. O silêncio voltou. Era um fim de tarde e o sol banhava de dourado a copa das árvores que sustentam minha alma e não me fazem pirar. Dizem que sou louco por eu ser mutantes. Há um crachá do Pinel que emoldurei e fica ao lado de todos os santos. Levaram o corajoso, mas deixaram a bandeirinha. Queimei em ritual onde a vela incendiária foi a guardada da primeira-comunhão. Coisas da minha mãe, cujo avô paterno tinha coceira no dedo e sempre que derrubava alguém que atravessa seu código de honra ia para o mato e passava dias e dias dormindo em cima de árvore. Ele tomava cem xícaras de café por dia. Tomo uma, enorme, logo cedo. Para entrar na vida e não ser incomodado.

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