DIÁRIO DA GRIPEZINHA
Hoje sou só alma. O corpo já foi embora. Desnutrido de paixões, dormiu sem nunca acordar. Mas a alma permanece. Busca a música da vida. Quer participar das conversas, dar opinião e tal, que ser travessa e amável, namorar cios, descer aos infernos. Para isso, precisa do corpo, e o corpo já foi embora. Tem dias assim e assado. Nos meus dias de assim, ponho-me a comer capim pra ficar alimentado. Nos meus dias de assado é quando esqueço de mim.
Madame me chega e diz que estou sendo repetititivo, e que esse papo assim assado já é coisa do passado. “O meu ao ponto” – informa o Exu da Encruzilhada. “Acompanha farofa?” – o mais novo quer saber. “Seu pai não pode comer farofa que ataca o camarão” – diz Madame. “Quando ataca o camarão joga a farofa no chão”. Robin, o garoto prodígio, que nem era para estar na jogada, senta-se à mesa com um prato de farofa. Assopra, e um ostracismo de farinha abrange todos os catecúmenos. Tiozinho, beatamente, prepara-se para receber mais um batismo – o terceiro. Três mulheres, três filhos, três batismos. “Como, três filhos?”. “Os outros foram escorregadas” – diz o coiso. Aí, Batman chegou, pegou o piá pela orelha e chisparam dali. Não sei se foi bem assim. Acho que nem foi.