DIÁRIO DA GRIPEZINHA
Tem dias assim e assado. Tem dias que estou cosido. Não cosido cozinhado, mas cosido costurado, e tipo assim coiseado. Tem dias que estou assado. Nos dias que estou assim já não respondo por mim, e nem nos dias de assado. Tem dias que estou cozido, uma garrafa na mão, noutra garrafa sentado. Passo o dia inteiro assim. Vem a patroa e enaltece: “Que faz, diabo, sentado sobre a pinga pra Exú?” Num upa me ergo a bunda, explico: tava guardando pra ninguém ponhar a mão. Agora sou cumunista, tenho pacto com o demo como criancinha assada nos meus dias de assado, nos meus dias de cozido encho a cara e me descuido. Patroa chamou seus anjos usando santas palavras, assim como abatetê, quem dabe se quixadá, e se alguém aqui for dar conversa mole pra anjo, onde é que meto a cabeça como se cabeça eu tivesse? Assim passaram-se os dias, e meu polaco varonil não digo que me tivesse mandado a punta barril, mas me olha com esses olhos que o faz tão varonil, e me deixa tão servil. Essa dor que alimento: salvei o mundo da Guerra e ninguém – nem mesmo ele – oferta medalha de burro pra fechar minha boca aberta.
Muito bem sacado e muitíssimo bem escrito. Valeu!