por Nelson Rodrigues
- Numa terra de neurastênicos, deprimidos e irritados, convém ter o macio, o inefável humor dos gordos. A banha lubrifica as reações, amacia os sentimentos, amortece os ódios, predispões ao amor
- Não há coisa mais pungente e mais emocionante, mais lírica e mais sublime, do que a banha humana. Quando vejo um chico-bóia, com a sua cordial barriga, a sua respiração curta, a derramar um suor grosso como um óleo, concluo: – “Lá vem um bom!”. Desconfio dos magros, dos elegantes. Ao passo que os gordos, de ambos os sexos e de qualquer idade dão-me uma ideia de bondade e, mesmo, de sanidade.