10:24Lábios e olhos

de Beto Mallmann

Leia meus lábios

Eles não balbuciam, escrevem.
Leia meus lábios
Eles não xingam, escrevem
Leia meus lábios
Eles não falam, escrevem
Escrevem em letras minúsculas
Ideias maiúsculas
Escrevem em código morse
Só para complicar, of course
Escrevem em rima
Só para criar um clima
Escrevem, escrevem, escrevem
Como se quisessem descrever
Seus lábios.

de Oberlan Rossetim

No teu olhar

No teu olhar eu descubro o meu mundo.
Paixões, progressos e alturas eu invoco.
Fico assim, desfolhando os teus olhos.
Eu gosto tanto de te olhar.
Você é onde me inicio e me finalizo.
O teu olhar me autoriza: o certo e o errado, a dívida.
Perco-me em memórias, tenho saudades.
E as saudades são Eu Total, passarinho e orgasmo.
Um espelho!
No teu olhar eu me vejo. E me invejo.
Substituo-me nos teus olhos.
Eu posso navegar.
Basta para ti olhar.
No teu olhar eu piso, sou sustentado.
Ao teu olhar eu respondo com perguntas.
Eu sempre quero estar um passo à frente da construção onde você me inventa.
Eu miro, me admiro, admito.
Posso, enfim, dar um nome e um motivo à minha infância.
Mas eu não caibo no teu olhar.
Fico de fora.
Invento a roda.
Pairo além de mim, à minha espera.
Algo impossível me separa da minha realização.
Quando e onde me completarei?
Isso eu não sei.
Mas no teu olhar eu me sinto um Rei.
E a majestade flutua entre nós dois.
Ora dou ordens ao meu coração, ora me submeto às tuas emoções.
E o olhar gira.
Ganho asas para não morrer no teu abismo.
Abuso da sensibilidade para te dizer qualquer coisa.
Viu o avião?

 

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