por Thea Tavares
Pausa nas Olimpíadas, só se fala em Messi e nas tais regras do chamado “fair play financeiro”, que tenta inibir a lavanderia de dinheiro que entra em campo com os grandes espetáculos do futebol. Mas o anúncio da saída de Lionel Messi do Barcelona também chama a atenção pelos números incríveis do desempenho do boleiro argentino no time em que ele se despede no momento: foram 17 temporadas, com 672 gols marcados, ou seja, uma média de quase 40 gols por temporada, praticamente uma e uma fração de finalização exitosa por partida jogada nesse período.
Se pegarmos pura e simplesmente o desempenho dele e de outros craques em outros campeonatos e ligas de futebol por aí para comparar, a diferença continua gritando. Mas, sem desmerecer um milímetro o prestígio e o reconhecimento com a performance do hexa jogador bola de ouro da FIFA com suas façanhas nas diversas arenas, vamos com muita calma nessa hora olhar com lente de aumento para as estatísticas. No campeonato espanhol deste ano (2020/2021), Messi, aos 34 anos de idade, foi artilheiro pelo Barcelona com 30 gols marcados. No ano anterior, foi igualmente artilheiro com 25 gols e na temporada 2018/2019, a última sem o assombro da pandemia, sua artilharia foi garantida com 36 bolas encaixadas no fundo da rede.
Na estante da prataria da casa, o Brasileirão, guardadas as devidas diferenças do calendário, vamos conferir as marcas da artilharia de Claudinho, do Bragantino, com 18 gols em 2020/2021, de Gabigol do Flamengo, com 25 em 2019 e de novo ele, Gabigol, só que pelo Santos, com 18 gols em 2018. Na história da artilharia brasileira, com registros de 1971 para cá, ainda vamos encontrar a marca de 34 gols do Washington em 2004 pelo Furacão, quando o time foi vice campeão, e a do Edmundo, com 29 gols pelo Vasco, em 1997, além de outras.
Alguém pode dizer, com toda razão, mas não dá pra misturar alhos com bugalhos, ou seja, comparar as desproporções em competitividade e muito menos a financeira (o que dá tudo no mesmo pacote de efeito tostines) entre a realidade dos campeonatos espanhol e brasileiro. Aqui e de um modo geral, temos, sim, um campeonato mais equilibrado do ponto de vista das chances dos times em disputa e até da ausência do debate sobre fair play financeiro, uma vez que todos estão praticamente remando no mesmo barco furado e com o mesmo tom de chororô.
É mais fácil marcar gol por lá? Olhemos para outro campeonato europeu, com mais equilíbrio nos times que disputam e, portanto, tão competitivo quanto o Brasileirão: a Premier League ou campeonato inglês! Por lá, Harry Kane, do Tottenham, marcou 23 gols na temporada 2020/2021; Jamie Vardy, do Leicester City, também emplacou 23 em 2019/2020, no retorno da pandemia, e Salah, do Liverpool, 22 em 2018/2019, último ano isento dos efeitos da pandemia sobre o esporte. Aliás, Salah vinha de um bicampeonato na PL, pois na temporada anterior sua artilharia bateu a marca de 32 gols. Na Série A do italiano, um pouca mais competitiva e disputada que a LaLiga, Cristiano Ronaldo emplacou 29 gols (2020/2021) com a camisa da Juventus, Ciro Immobile fez 36 (2019/2020) pela Lázio e Fabio Quaglierella marcou 26 gols (2018/2019) pelo Sampdoria.
A Bundesliga, campeonato alemão, por sua vez, primeiro a voltar aos campos depois da primeira onda da Covid-19, traz pra gente a notoriedade da artilharia do polonês Lewandowski, do Bayern de Munique: 41 gols (2020/2021), 34 (2019/2020) e 33 (2018/2019). Na França, Kylian Mbappé do Paris Saint-Germain é o craque cativo da artilharia do campeonato: 27 gols (2020/2021), empatou com Wissam Ben Yedder do Mônaco com 18 gols (2019/2020) e vinha de um destaque isolado de 33 bolas balançando a rede na temporada anterior (2018/2019). Em termos de desproporção e nível de competitividade dos times, o PSG do Mbappé pode ser comparado com o ambiente em que se destaca Messi no Barça. E sobre a habilidade de um Lewandowiski nem se fala!
Com base nesse angu de números, daria para dizer que o ambiente mais hospitaleiro que se apresenta para o boleiro argentino é o PSG dos igualmente bem valorizados Mbappé e Neymar e do compatriota Di María. Mas não se pode dizer que a porta espanhola se fechou para ele, apesar da idade avançada e dos interesses financeiros envolvidos. Vale destacar que Messi já tinha anunciado sua despedida da seleção argentina e, ao voltar atrás naquela decisão, ainda acumulou o título recente de campeão pela Copa América num Brasil pandêmico.
Há muito o debate do futebol deixou de ser uma discussão sobre históricos de atletas (no bom sentido), torcidas e espírito esportivo. É um mercado selvagem e, nele, os craques são as grandes commodities, com passes milionários e gordura agregada nas promessas de audiências disputadas na santa paz e tranquilidade de uma bolsa de valores. Vai perder a graça a LaLiga sem o Messi? Sem dúvida que vai. O baque da ida de Cristiano Ronaldo para a Itália não nos deixa mentir. Nesse jogo, craque é dinheiro. E dinheiro, no final das contas, é o que apita todo e qualquer jogo no Planeta!
Em tempo: Segundo o que circula nos corredores das redes sociais, o PSG teria oferecido um salário de 50 milhões de euros por temporada para Messi. Neymar iria para 30 milhões. Isso fora os rendimentos com propaganda e outras arrecadações por fora que os jogadores têm direito.
A Sra já escreveu textos melhores. Falar de futebol não é sua praia….aliás este texto é só para encher a bola deles….
Perfeito o raciocínio, mas nunca se esqueça que o Messi é também um dos maiores “garçons” das grandes ligas. Vale analisar as assistências, o seu trabalho de pivô. E, é claro, o fato de que sua presença no time desloca diversos adversário para tentar neutralizá-lo e aí os seus companheiros ficam mais livres para atuar.
É verdade, Grande João. Se fosse levantar os gols que passaram pela assistência ou começaram nos pés dele, a conta seria absurda e a pesquisa levaria um eito de tempo! Mas é um acréscimo e tanto.