7:35Vamos falar de gente

por Carlos Brickmann

O ídiche, língua derivada do alemão falada pelos judeus da Europa Central e Oriental, tem uma palavra difícil de traduzir: mensch. Literalmente, significa gente. Mas o significado é algo como “gente boa”, “gente como todos deveriam ser”.

Pois, lamentavelmente, com a morte de Marco Maciel, o Brasil perdeu um mensch. Marco Maciel foi um trabalhador compulsivo, das sete da manhã às três da madrugada, todos os dias. Estudava cada problema a enfrentar, em companhia de assessores da mesma estirpe. Era leal. Pertenceu à Arena, o partido que apoiava o regime militar, e ao PFL, que ainda hoje anda por aí, com o nome de DEM. Ninguém é perfeito. Mas jamais participou de forma alguma das barbaridades da ditadura. Deputado estadual, deputado federal, senador, governador, ministro, vice-presidente da República, jamais sofreu qualquer acusação: um homem limpo. E, sem dúvida, leal.

Conheci Maciel por meio de um de seus principais assessores, um mensch como ele, uma pessoa notável: o paulista Cláudio Lembo. Foi quem me disse para jamais aceitar convite de Maciel para almoçar: ele, apelidado de Mapa do Chile (basta ver sua foto de corpo inteiro para entender), costumava propor, para poupar tempo, trocar o almoço por um sorvete – um picolé. Mal comia: café preto por volta das seis da manhã, orações (católico praticante), o picolé de almoço, uma sopinha por volta de duas da manhã, acordar às seis. O resto do dia, trabalhar. Marco Maciel foi-se no domingo. Todos perdemos.

Coluna Carlos Brickmann

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