Visitei as catedrais e em nenhuma delas encontrei deus. Não era nas grandes construções erguidas pelo homem que ele estava. Nas procissões que carregavam objetos sagrados senti a presença do medo, mas jamais a presença de deus. Falei com as pessoas simples da rua, as que portavam o livro sagrado e temiam a deus, mas em suas palavras apenas encontrei o medo. No seio das famílias que rezavam agradecendo graças recebidas senti muito nítida a presença daquele temor que nos infundiram desde a infância, mas deus estava apenas nas palavras ocas. Mesmo na desgraça, quando o pranto é derramado junto ao ente querido, senti a raiva e o medo, mas nunca o amor a deus, o agradecimento, a ternura.

Eu encontrava deus no meio da minha alegria quando trafegava por nossa montanha e ela falava comigo com a voz sagrada. Quando me assolavam a dor e o desespero não procurava os templos para falar com deus. Buscava a singeleza da mata, seus caminhos mágicos, a solidão cheia de presenças do bem, e era quando tínhamos uma boa conversa, deus e eu. Ele não está no grito das ruas, nas orações das igrejas. Está num lugar sagrado que cada um de nós sabe onde fica. É custoso arrancar da pele da alma as tintas com que nos foi pintado o deus impossível. É difícil aceitar que deus está em nós, que não precisamos de templos, promessas, sacrifícios. Agradecer a deus é agradecer a si mesmo e isso é bom remédio para curar as culpas. Se nos arrependemos do mal feito prometemos ser melhores pessoas e isso deve ser deus.