19:43ZÉ DA SILVA

A notícia veio empurrada pelo vento como aquele que leva o saco plástico vazio na rua de terra. O vizinho matou alguém num bar. Discussão durante o jogo de bilhar. A arma foi o próprio taco, que quebrou na nuca da vítima. Não houve comoção, ninguém chamou o ainda menino de assassino, nada. No ar ficou apenas a imagem dele que, muitas vezes, brincava na rua com a molecada mais jovem – e sempre era sorriso – de gente boa. Talvez o entendimento, sem ainda se compreender direito, tenha sido o de que no momento da pancada ele tenha ultrapassado o limite e entrado no desconhecido. Ele sumiu e, o que chamou a atenção, depois, foi que a polícia não apareceu ali na casa da numerosa família. Nem no dia, nem nunca. Ele reapareceu algumas semanas depois. Foi como se tivesse estivesse voltando de férias na casa de um parente distante. A vida continuou, com ele a brincar novamente com os meninos da rua, mas seu sorriso não era mais o mesmo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.