Ela fechou a porta. Viu-se em um filme. A vida que dantes quisera tornou-se a aurora da ficção. Nada que um filósofo não entenda. A razão a pairar sobre prédios em construção. Pegou uma nota de cem e rasgou. Ódio ao motor inescrupuloso e impiedoso. Chorou. Reanimou-se pela descida do elevador que a levava a andares misteriosos. Que vizinho há de supor que ela nem sequer trancou a porta? Voltou ao andar da moradia. Uma brisa da lua a arrebatou. Sutilezas não programadas. Viu o vazio da alma a buscar paredes que falam. Olhou o relógio. Hora de ir. Ao supermercado da horta tóxica. Fugindo de si mesma, encontrou-se de novo no filme. Aplausos. Morreu de convicção. Não viu a tímida tigela a quebrar. Cortou-se com seus pedaços. O sangue escoou pelo ralo. Como se fosse oxigênio a transmutar pensamentos. Viu a sordidez. Refez-se. Sonhou com o passado. Viu Lúcifer e o namorado consagrando-a na cama e na lama. Mentiu. Renasceu. E aqui estou eu. A ver o cinema como miragem.