Não tinha planos porque só pensava pra trás. O computador de bordo, vulgo mente, sempre trabalhou com imagens coladas e projetadas em alta velocidade. Do bife que a menina magrela, empregada, não comia depois de colocar no prato – mas embrulhava e levava pra casa, à cena da tv velha pegando fogo e todo mundo jogando areia dentro, porque o tubo poderia explodir se jogassem água. O que se passava na tela? Talvez o Vigilante Rodoviário, como ele viu muitos anos depois ao acordar na madrugada – e vibrar com o inspetor Carlos salvando Juca Chaves de um sequestro. Sim, este computador também transmitia sentimento, mas nunca alegria, sempre a solidão do dia em que saiu do cinema, comeu pizza brotinho e, ao entrar no ônibus vazio, sentou no último banco e continuou sentindo a dor daquele dia triste. E o medo sempre presente. O rabo-de-galo para dar coragem de esperar a menina na porta da empresa. Primeira vez. Tudo deu errado. Ela entrou e nunca mais saiu da lembrança. O cheiro da sala da primeira aula. Depois uma conversa sobre isso com Milton Hatoum e sua Manaus, onde esteve e depois se inebriou com a semana inteira navegando no rio Amazonas. Olha lá! Felini na escuridão dentro do transatlântico todo iluminado. E a lua, raio refletido na água escura, motor incansável do barquinho levando-o para dentro. Pra ele ficar sonhando verdades pra trás.
Pois é amigo incidental,as lembranças as vezes nos deixa amargurados a medida que aquilo parece tão atual e se foram tantos anos.Estou aqui tomando umas cervejas para aguentar a barra,estamos num tempo de tristezas e medo,mas afinal mão tive medo antes de 1953.