DIÁRIO DA PANDEMIA
Para a primeira namorada que amei eu disse uma frase idiota: Tua beleza me espanta. Eu estava realmente espantado com aquela beleza, e talvez nem fosse tão bela, o amor nascia em mim, explodia em mim e de repente lá estava ela, na minha frente. Eu devia ter dito: Tua beleza me encanta. Ou não ter dito nada. Há ocasiões que o texto sucumbe. Apenas olhar para ela com ternura nos olhos, com a fome que me mordia e que eu queria transferir para ela. A primeira namorada que amei nunca chegou a ser minha namorada porque fiquei muito espantado com seus encantos.
Outras meninas vieram depois e, na verdade, também me espantei cada vez. O corpo nu da fêmea foi espanto. As despedidas foram espanto. Os encontros – cada encontro – foram espanto, os desencontros também. A vida cheia de mulheres, depois a solidão, tudo o que se perde, tudo o que permanece, tudo me espanta. A carga preciosa, as verdes esmeraldas da esperança, a vida me espanta.
Notei que uma das torneiras pingava eque meus filhos cresceram,e os templos que nada curam e os dias são intermináveis.
Padrella, parabéns.
Vc disse tudo.