DIÁRIO DA PANDEMIA

ESPEREI POR TI

Esperei por ti a tarde inteira como quem espera um milagre. Pratiquei os sinais mágicos, que inventei, e senti perfume de flores. Preparei a pele para a carícia das tuas mãos, mas não preparei o espírito para a ausência.

Esperei por ti nas manhãs de maio, que são as mais propícias para o amor. Quando veio o frio inverno eu me preparei para outros maios vazios.

Quando a noite chegava eu deixava a porta aberta. Tu podias chegar de surpresa. Eu escutava passos no jardim. O vento falava com tua voz.

Ainda te aguardo. Já não sei quem és. Os dias já não estão agitados. Mais um maio passou. Rasgo a página da folhinha. Vou para dentro de mim. É onde te encontro. Caminho contigo pelas alamedas. Converso com tua voz no vento. Às vezes, inaudível apelo me diz que tenho de ir. Olho para o horizonte e não sei para onde. Talvez deva seguir o vento. Sim, o vento.

 

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