19:06ZÉ DA SILVA

Me amarraram na cadeira e lembrei do Caryl Chessman, o Bandido da Luz Vermelha original, executado na câmara de gás em 1960 nos EUA. Eu tinha 11 anos. Me mandaram abrir a boca. Colocaram algo como um bridão de cavalo – e eu não pude mais fechá-la. Uma seringa de metal com uma agulha maior que a antena do Empire State apareceu. Furaram meu céu da boca várias vezes. Anestesia. O doutor, velho, careca, impassível. Fez o serviço. Adenoides. Olhou direito lá no fundo e disse que ainda havia um resto de amigdalas de uma cirurgia anterior mal feita. Cortou com tesoura. Em casa deitei em posição fetal e me cobriram com um cobertor marrom. Não lembro mais da dor. Passou um tempo e chegou uma pequena tigela com sorvete de chocolate e creme. O milagre se fez. Repeti duas vezes. Lá em casa isso só acontecia uma vez na vida e outra na morte. No dia seguinte perguntei se a gente ia voltar para aquele consultório. Tinha gostado da cadeira.

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