DIÁRIO DA PANDEMIA
O jogo da toga é interessante. Todos se vestem de vestidinho preto e vão para a sala de reuniões. Aí é feito sorteio pra ver quem é o réu. A brincadeira já tinha começado quando apareceu tardiamente a dupla dinâmica de Batman e Robin. A fantasia do garoto do capitão destoava no meio de toda aquela pretidão, mas a gente respeitava as loucuras do militar. Havia sido contemplado com a alcunha de Suspeito, o cara que joga truco comigo através da parede. Já falei sobre isso em outro tempo. Pesou sobre ele a acusação de escamotear sabonete nos banheiros militares, ocasionando destarte um clima de frustração entre os banhados. Em sua defesa falou o “seu” Gildo (acho que é Gildo), dizendo que poderiam ser colocados em cada chuveiro dez ou quinze sabonetes, e quando um caísse no chão seria substituído pelo reserva, subtraindo assim a necessidade de s’agachá. A acusação foi dura. Declarou que “seu” Gildo estava se metendo onde não tinha sido chamado e interferia na brincadeira dos outros, posto que a sabonetagem outra coisa não era senão um jogo onde todos se divertem. Ia o réu perdendo o processo quando a Defesa, tirando do bolso a carteirinha de estudante de Direito, deu uma carteirada na cara da Acusação, e o réu foi beneficiado.
Filme: OS PESCADORES DE SARGAÇOS (direção de Jean Epstein, filme de1929). Sabemos todos que sargaço é o sabonete quando fica tão pequeno que escorrega da mão. Esta emocionante obra de Epstein registra os momentos finais de um banho na sauna Meu Lar, sita na rua General Estrupício Mamadeira, número 15.