DIÁRIO DA PANDEMIA
Dona Maria Amélia é portuguesa, bem como o marido Joaquim Manoel e o filho Manoel Joaquim. Moram no bloco pegado ao meu, o mesmo do capitão e seu ofurô. Aos sábados resolve fazer sardinhas na brasa, ali fora, na frente da garagem. Prepara lá sua trempe, seja lá o que isso signifique, e põe-se a trampar. Um cheiro característico de sardinha assada evolui e toma conta do quarteirão. A síndica não gosta, mas sempre se esquece de baixar portaria a respeito, e daí chega o sábado, e não se pode legislar em causa própria. Não sei porque eu disse isso, que lá no Planalto só se legista em benefício de si mesmo. Bom. Daí que, quando as sardinhas estão prontas ocorre o milagre da transposição dos peixes. Do andar de cima desce uma linha de pesca e nisso o garoto do capitão é campeão. Uma a uma as sardinhas assadas da portuguesa são pescadas pelo moleque assanhado e vão parar na mesa onde come um comem dois. Dona Amélia, muito católica e observadora das coisas pias, vê no sumiço de seu almoço um milagre, posto que Jesus também transpunha os peixes do Mar da Galileia para o barco dos apóstolos. Acreditando que suas sardinhas estavam a alimentar algum santo, decidia-se a passar o dia inteiro em jejum. E era ela se distrair que vinha a síndica e jogava um balde d’água no negócio da outra.
Filme: A PARTIDA – (direção de Yojiro Takita, com Masahiro Motoki, Rioko Hirosue e Tsutomo Yamazaki. Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2009). Um alto comissário do Governo Central vai partir. Antes que parta, a Polícia Federal dá uma prensa no cara. Acha um monte de grana justamente na partida. Participação especial de membros (epa) da matilha dos lobos guarás.