6:58NELSON PADRELLA

DIÁRIO DA PANDEMIA

Conheci o herói, não suas batalhas. Delas soube a beleza da marcha dos cavalos e as flores do campo pisadas pela Infantaria. Ouvi música de fanfarras, não vi os instrumentos sendo manejados. Vi os campos, não os mortos sepultos sob as flores. Tampouco o herói posso afirmar que conheci. Vi-o algumas vezes ao largo, discutindo o que poderiam ser estratégias. Era belo? Não sei. De tão longe o vi que fogem os detalhes, e tanto tempo faz que nem sei se o herói existiu com sua música e sua guerra, seus cavalos e seus mortos. Alguma coisa se deve ter passado ou eu não estaria agora neste promontório tentando recompor aqueles acontecimentos. Talvez eu próprio seja o herói. E as pessoas falem de mim em crônicas familiares, e enalteçam meus feitos mais do que o devido, e invejem minha guerra e pranteiem meus mortos. E os adultos se emocionarão ao narrar para as crianças a história do herói que eles comungaram. E as crianças absorverão, maravilhadas, a invenção dessa contagem, e prestarão toda atenção em cada palavra, para poderem um dia transmitir aos pósteros o que lhe foi legado.

2 ideias sobre “NELSON PADRELLA

  1. wilson portes

    Supimpa, caro Padrella.
    Desta vez tu te superaste pra valer.
    Parabéns pela belíssima crônica.

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