DIÁRIO DA PANDEMIA

Gente culta é outra coisa. Um amigo estava me contando que, entre os seus, costumam realizar concursos culturais. Não para saber quem é o mais culto. Fazem concursos por não terem mais nada o que fazer, a vida está ganha, dinheiro no bolso, fazer o quê! Num desses concursos, me disse que tirou o segundo lugar um cachorro desconhecido que deu trinta e sete latidos exatamente iguais. Isso é Cultura. O primeiro lugar ficou para um candidato anônimo que relatou o ocorrido durante uma tarefa em sua fazenda. Disse que a água para o tanque dos patos foi ligada exatamente às 2:45. E que enquanto o tanque se enchia, ele registrou os mais insólitos ruídos na água, desde vozerio de ídolos da música brega a “sons selvagens que me reportaram aos filmes de Johnny Weissmuller”. A mesa jurídica pesquisou se o cidadão não seria dado ao consumo de determinada erva. Mas mudou de ideia quanto ao uso de substâncias quando o candidato disse que se toda aquela água fosse posta num espelho de vinte centímetros, ali poderiam espadanar mais ou menos trezentos mandarins. Levou o Primeiro Prêmio porque ninguém entendeu nada.

Filme: FESTA DE FAMÍLIA (direção de Thomas Vinterberg. Este filme ganhou o Grande Prêmio do Júri de Cannes, além do Prêmio Especial do Júri da 22ª Mostra SP. Melhor Filme Estrangeiro da Associação de Críticos de Los Angeles e Nova York). Reunida com os mais eminentes membros (epa!) do generalato, a família Buscapé comemorava a venda de mais um lote de croroquinhas para a turma dos negacionistas.