por Mário Montanha Teixeira Filho
São muitas e grandes as perdas que o ano encerrado deixou. Vidas se foram aos borbotões, apagadas pela peste global, e os que sobreviveram seguem com seus passos minúsculos em direção ao nada. Foram embora o sentimento pela morte, a solenidade da morte, o misticismo em torno da morte. Em contrapartida, os cultivadores/promotores da morte pularam de suas tocas. Eles estão nas ruas. Ou nos gabinetes do poder. Ou no submundo dos que empilham corpos em nome do lucro.
Falta novidade nesse tipo de exposição grotesca, que não é só de 2020. Vem de anos antes. Anos recentes, com inspiração em autoritarismos outros, em ódio, intolerância, cafonice, malandragem, violência e extermínio da razão. Abrir os olhos ficou cada vez mais doído. Respirar, mais difícil. A palavra substituída por sons destemperados, o amor em fuga, o prazer punido.
Avança-se, como deve ser. O punhado de dias que correrão apressados, a formar novo período, é a esperança de agora e de sempre.