por Mirian Goldemberg
Neste momento eu estou bem, aprendendo a viver um dia de cada vez com tudo o que me faz bem
Quando alguém me pergunta: “Tudo bem com você?”, não sei como responder.
Não consigo dar a resposta esperada: “Tudo ótimo. E você?”
Também não posso dizer a verdade.
Estou péssima, deprimida, exausta, triste e angustiada com o que está acontecendo no Brasil e no mundo. Tentando administrar o medo e a ansiedade sem tomar remédio.
Não consigo dormir. Choro muito.
Fazendo tudo o que eu posso para proteger, ajudar e cuidar de quem eu amo.
Preocupada com os meus amigos nonagenários que estão sofrendo com essa prisão, com a morte de amigos queridos, com a saúde do meu marido, comigo mesma, pois não estou conseguindo ter força e equilíbrio para cuidar de mim.
Sofrendo com o ódio, violência e crueldade dos monstros criminosos que não estão fazendo o que deveriam fazer para salvar as vidas dos brasileiros.
Cadê a vacina? Não consigo entender como tanta gente perversa apoia e se identifica com sociopatas assassinos. Nem aceitar que tantos egoístas e psicopatas consigam rir, fazer festas e se vangloriar de não usar máscara.
Apavorada com o abuso e violência que os mais velhos estão sofrendo dentro das próprias casas. Escrevo compulsivamente, pois é a minha terapia para não sucumbir ao pânico e desespero.
Os meus únicos momentos de alegria são quando estou conectada amorosamente com os meus amigos mais queridos e escuto as risadas gostosas da Thaís, de 95 anos, e do Guedes, de 97. Eles são meus companheiros diários em um jogo de palavras que inventei, no estudo de “Os Lusíadas”, na leitura de Clarice Lispector e muito mais.
Sem eles eu não conseguiria sobreviver física e emocionalmente. Meu marido tem sido maravilhoso, pois sabe como me abraçar e me dar tudo o que eu mais preciso aqui e agora. Converso todos os dias com uma amiga que está enfrentando uma doença grave.
Repito um mantra que escrevi para ela: “Vamos viver um dia de cada vez, com tudo o que nos faz bem. Fazer o máximo e o melhor com o que temos para hoje. Todas as respostas que precisamos já estão dentro de nós. Vamos alimentar o nosso corpo, coração e alma com o belo, o bom e o bem”.
Mas encontrei um forma melhor de responder o “tudo bem com você?”
“Sinceramente, não sei como responder essa pergunta. Só consigo dizer: ‘Neste momento eu estou bem, neste momento as pessoas que eu mais amo estão bem. E você, como está?’”
Mirian Goldenberg
*Antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio, é autora de “A Bela Velhice”.
*Publicado na Folha de S.Paulo