Furei a cabeça e o dedão do pé direito. O cachorro riu. Acho que porque o achei com corpo de capivara. Mas ele me ama. Fica com aquele olhar de torcedor de time de futebol para a camisa oficial. Não há pedido de compensação. É entrega. Sangrei, como no coração do apaixonado ouvindo um bolero, mesmo sem nunca ter conhecido a razão da entrega incondicional. Desconfio que a febre de 42 graus tenha mexido com meu computador de bordo. Ela veio, tocou o horror, por causa da peste do momento – e foi embora sem dar adeus. Às duas da madrugada entrei no mar. Agradeci. Dormi, delirei, e quando acordei o cão estava deitado ao meu lado. Só não cantou encosta sua cabecinha no meu ombro e chora porque ainda não decorou a letra.