de Lima Barreto
Os políticos
“É que a vida econômica de Bruzundanga é toda artificial e falsa nas suas bases, vivendo o país de expedientes.
Entretanto , o povo só acusa os políticos, isto é, os seus deputados, os seus ministros, o presidente, enfim.
O povo tem em parte razão. Os seus políticos são o pessoal mais medíocre que há. Apegam-se a velharias, a coisas estranhas à terra que dirigem, para achar solução às dificuldades do governo.
A primeira coisa que um político de lá pensa, quando se guinda às altas posições, é supor que é de carne e sangue diferentes do resto da população.
O valo de separação entre ele e a população que tem de dirigir faz-se cada vez mais profundo.
A nação acaba não mais compreendendo a massa dos dirigentes, não lhe entendendo estes a alma, as necessidades, as qualidades e as possibilidades”
“Que financeiro!”
“Financista elegante e estudioso dos mecanismos financeiros do velho mundo, Dr. Karpatoso foi convocado pelo governo para solucionar o déficit de Bruzundanga, quebrou a cabeça e três dias depois, elaborou a proposta: “aumentava do triplo a taxa sobre o açúcar, o café, o querosene, carne-seca, o feijão, o arroz, a farinha de mandioca, o trigo e o bacalhau além de outros aumentos”. O governante Idle Bhras de Gramofone e Cinema exultou: “Que financeiro!”. Um deputado objetou: “Vossa excelência quer matar de fome o povo da Bruzundanga”. Karpatoso responde: “Não há tal; mas mesmo que viessem a morrer muitos, seria até um benefício, visto que o preço da oferta é regulado pela procura e, desde a procura diminua com a morte de muitos, o preço dos gêneros baixará fatalmente.”.
Pobres x ricos
“A inteligência pobre que se quer fazer tem de se curvar aos ricos e cifrar sua atividade mental em produções incolores, sem significação, sem sinceridade, para não ofender seus protetores. A brutalidade do dinheiro asfixia e embrutece as inteligências”.
Bem lembrado.