Às vezes Deus vem e diz: escreva. Agradecida sou, mas eu também, às vezes, recuso-me. Como agorinha mesmo. Haja paciência com alguém que não se dá ao trabalho de obedecer. As palavras sobressaem à lógica. Uma mágica de estar apenas aberta. Caem mil vocábulos a meus pés. E eu os escolho. Ao meu bel prazer. Este serve. Aquele, não. Misturo sílabas, desfaço significados. E, valha-me, nosso Senhor! É uma salada de dessignificados. Ouço a nova palavra. Soa-me bem. Um novo conceito pelo qual andam todos os buscadores de sonoras coincidências. Pego-as pela raiz. Há evidências de que elas não sabem de onde surgiram. Eu as encaminho. Na linha torta que me caracterizou como a veneração do inanimado. Escrevo este texto como uma fumaça dos milhões de sóis a explodir naquele dia em que eu fui sozinha ver meu sangue derramado pela espada de meu algoz. Sangrei. Não chorei. Estou mais viva ainda. Quem há de morrer por convicção? Sairia bem se a mentira me convencesse. Mas é apenas uma palavra. Minto. Pra quem? A vida há de ser criada por algo muito simbólico. Vejo a inércia penetrar. Mais uma vez não escrevo. E aqui estou. A emudecer paredes com utopias. E a ficar sem o meu filho.
Bravo, bravíssimo!