Do UOL, por Leandro Carneiro
Depois de ser desligado da rádio Jovem Pan, da Record, da Rádio Guaíba e do Correio do Povo, Rodrigo Constantino teve seu vínculo com o jornal Gazeta do Povo mantido.
O veículo disse que analisou o posicionamento do jornalista e que, em sua coluna, explicou melhor o que Rodrigo queria dizer.
“Rodrigo Constantino explica de forma mais clara e objetiva o que quis e o que não quis dizer. Isso não nos impede de considerar que suas manifestações iniciais foram inoportunas e infelizes, intempestivas e formuladas com imprecisão, dando margem a dúvidas que precisaram ser esclarecidas. É compreensível, portanto, parte do desconforto e constrangimento que despertou em muitas pessoas”, afirma o comunicado.
O jornal ainda endossou o texto de Rodrigo, afirmando que os pontos se esclareceram.
“Na sua coluna desta quinta, no entanto, disse que jamais teve a intenção de analisar qualquer situação em concreto e reforçou a necessidade de que o caso de Mariana seja apurado e que, assim, faça-se justiça. Disse, inclusive, que acha brandas as penas do crime de estupro em nosso país”, completou.
Por fim, o jornal entendeu que Rodrigo não ultrapassou o limite ético da publicação e decidiu por manter ele.
“Ainda que não concordemos com a forma de muitos dos seus posicionamentos e com muitas das suas opiniões, continuamos acreditando na importância da diversidade de ideias e na importância do diálogo para a construção de uma sociedade melhor e de uma democracia cada vez mais madura, razão pela qual, após várias ponderações e análises, decidimos pela manutenção de Rodrigo Constantino em nosso quadro de colunistas”, conclui.
Revolta de colegas
O posicionamento não agradou jornalistas da redação do jornal. Segundo a carta obtida pelo UOL, funcionários assinaram um texto de repúdio ontem.
O manifesto foi direcionado à direção do jornal, a família dos irmãos Guilherme Cunha Pereira e Ana Amélia Filizola e o grupo de comunicação GRPCOM.
“As colaboradoras da Gazeta do Povo abaixo assinadas receberam o comentário com incômodo e enxergam no episódio uma violação às convicções do jornal”, informa o início da carta.
Ela ainda cita trechos da tal coluna de Constantino e pede mais esclarecimentos por parte do jornal.
“Gostaríamos, assim, de mais transparência da direção em relação ao tema e seus possíveis desdobramentos. O colunista da Gazeta do Povo, em seu texto, culpa vítimas pela violência sofrida. Não existe ‘assumir o risco de ser estuprada’. É mais uma situação de opressão em cima da mulher, que não considera avanços de entendimento da sociedade de que estupro não é apenas o ato sexual imposto de forma violenta, mas também o que passa por cima do consentimento”, critica.
Misoginia
A carta dos funcionários ainda classifica o texto do jornalista como misógino.
“Constantino cobra “responsabilidade” da vítima e condena “banalização” do uso do termo estupro, mas descarta a palavra da vítima e ignora o fato de que a violência sexual tem inúmeras outras formas que não um ato consumado. Pior: dissemina esse entendimento deturpado, prejudicando o debate tão essencial. A misoginia perpassa toda a construção do texto além de deixar subentendida a avaliação de que tipo de mulher se coloca sob risco”, afirma.
O comunicado diz que é frustrante compartilhar o espaço de trabalho com Constantino mediante a situação e que ele desrespeitou não só as mulheres, mas como a linha editorial do jornal, que tem um “caderno de convicções” lançado em 2017.
As colaboradoras da Gazeta do Povo consideram extremamente frustrante compartilhar espaço com esse tipo de declaração, que não vem acompanhada de pedido de desculpas.
“A Gazeta do Povo quer proporcionar um ambiente onde as mulheres se sentem seguras para desempenhar seu trabalho ou, ao contrário, um ambiente em que o machismo e a violência moral, verbal e, eventualmente, física, seja vista como tolerada pela direção? Neste cenário, as colaboradoras entendem haver um incentivo ao assédio, à cultura de julgar a vítima e desestímulo a denúncias. Com isso, há perda de respeito e engajamento aos valores e ideais do grupo”, encerra, cobrando mais firmeza em uma decisão.
Dignidade já!
Após a manifestação do jornal pela pluralidade de ideias, o correto a se fazer é o pedido de demissão coletivo.
Perfeito gazetinha, melhor lugar impossível.
Feitos um para o outro…a propósito, a gazeta pretende convidar Donald Trump para ser colunista? Fica aí a sugestão.
Gazeta do Povo e Curitiba, se merecem.