15:36Sumiço de sacola de dinheiro em Maringá vira escracho nacional

Da revista Época, em reportagem de Sérgio Roxo

REVELAÇÕES DE AMEAÇAS POR SUMIÇO DE SACOLA DE DINHEIRO AGITAM CAMPANHA ELEITORAL EM MARINGÁ

Ex-secretário do atual prefeito e candidato à reeleição falou em cortar os dedos de sua ex-funcionária

A revelação da existência de uma série de mensagens de áudio ameaçadoras como retaliação pelo sumiço de uma sacola de dinheiro agita a reta final campanha eleitoral na cidade de Maringá, no interior do Paraná. O caso fez com que a Justiça determinasse que o ex-secretário de Serviços Públicos da cidade Vagner de Oliveira mantenha uma distância de, pelo menos, 200 metros de uma ex-funcionária que trabalhava em sua casa.

Nas mensagens de áudio anexadas ao processo, o homem apontado pelos advogados da ex-funcionária como sendo Vagner fala que “cortará os dedos” da mulher, que ela “enterrará alguém da sua família” e que só confessará que pegou a sacola de dinheiro depois que ele “arrancar o seu coro e passar sal grosso”.

Vagner trabalhou na campanha de 2016 que elegeu o atual prefeito de Maringá, Ulisses Maia (PSD). De 2017 até fevereiro deste ano, ocupou a Secretaria de Serviços Públicos. Blogs locais noticiaram que ele deixou o cargo para coordenar a campanha à reeleição de Ulisses. Em mensagens de Whatsapp recentes enviadas de seu número, ele diz estar na coordenação da campanha do prefeito e pede autorização para colocar banners nas portas de casas.

Também circularam fotos dele no comitê da campanha à reeleição do prefeito. Questionado nesta terça-feira, o ex-secretário afirmou ser apenas um “colaborador voluntário”. A assessoria da campanha deu a mesma resposta.

O sumiço da sacola de dinheiro aconteceu no dia 23 de julho. O interlocutor que faz as ameaças exalta em uma das mensagens o “poder que tem em Maringá”. A ex-funcionária nega ter pego o dinheiro, mas o homem diz que o quarto onde estava a sacola era monitorado e as imagens mostram ela pegando a sacola.

“Não vou me prejudicar sozinho com essa palhaçada toda. Alguém vai se foder e alguém muito próximo de você. Seus dedos eu vou mandar cortar todos para você nunca mais mexer no que é dos outros. Estou te dando a oportunidade de salvar vidas. Os pitbulls estão só esperando eu soltar a coleira”, afirma.

Em meio às ameaças, o homem ainda afirma ter certeza que ficará impune mesmo que pratique algo contra a ex-funcionária. “Sabe o que vai começar comigo? Nada e sabe o que vai acontecer com você? Vai enterrar alguém da sua família e vai ficar sem os dedos da mão”.

Em nenhum momento da conversa, fica claro qual a quantia que sumiu. “Se você acha que um dinheiro desse te deixa rica, não te deixa rica. Pode melhorar muito a sua vida, pode fazer você viajar, pode fazer você resolver problema das suas filhas, mas por muito pouco tempo.” O autor das ameaças também admite estar disposto a perder um pouco da quantia para recuperar a maior parte da quantia que estava na sacola.

Há ainda ameaças de tortura: “Você não tem noção de como você vai sofrer por causa disso. Você é só arrancando seu coro e passando sal grosso. Você tem que ser judiada, para você entregar.” O homem também fala que não pretende resolver o roubo na delegacia, “só em última instância”.

Em troca de mensagens de texto, o homem escreve: “Vão me matar”, por causa do sumiço do dinheiro. Também faz mistério sobre o verdadeiro dono do valor: “Você nem imagina de quem era”. Em outro trecho, porém, afirma ser o dono da quantia que representava a única “economia que tinha”.

Com base nas mensagens e relatos do processo, o juiz plantonista Jaime Souza Pinto Sampaio decidiu, no último dia 29, aplicar medidas restritivas porque constatou a “existência de risco à integridade física e psíquica” da ex-funcionária. O magistrado proibiu, pelo prazo de 180 dias, Vagner de Oliveira se aproxime dela e faça comunicação por qualquer meio.

No processo, é relatado que a vítima deixou a cidade para se proteger. O ex-secretário afirmou que não queria dar ênfase ao caso e alegou estar sendo “usado para prejudicar o candidato fazendo politicagem”. A candidatura de Ulisses Maia se limitou a dizer que Vagner não exerce nenhuma função na campanha.

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