Eu sou
As reticências, as aspas, os parênteses, o ponto, a exclamação, a interrogação. A vírgula. Eu sou o que veio primeiro. O som. Sou a porta que range, sou a lágrima da partida, sou a pedra que quebra, sou a lua escondida, sou o mar que não cessa, sou o objeto perdido, sou a terra onde brota a semente da vida, sou o fruto, sou o filho, sou a mãe, sou a luz, sou o sol da manhã, sou a fumaça da fogueira, sou a poeira, sou o lago profundo, sou a última e a primeira, sou a corda do enforcado, sou a respiração, sou o oceano enluarado, sou a perdição, sou contração, sou a pele, o músculo, o sangue, sou dilatação, sou mínima no máximo das coisas, sou vastidão, sou criança, sou a emoção da razão, sou fictícia, sou malícia, sou pureza, beleza e assimetria, sou poesia, sou ruína, sou o paraíso, sou o sorriso e a tristeza contínua, sou o tremor da Terra, sou o suor, sou a serenidade, sou fantasia e sou verdade, sou a escolhida, a enviada, sou a que sempre volta pra casa, sou avós, sou voz, sou veloz e infinitamente paralisada. Sou o que está fora e o que está dentro. Eu sou o que eu sou. E nunca mais serei a mesma.