6:42ELE

Foto de Luis Trípolli

Há um Pelé na vida de todos nós, brasileiros. Um dia ele produziu um milagre lá em casa. Meu pai que arrancava os fios de bigode acompanhando as partidas do Santos pelo rádio colocado em cima de uma mesinha de madeira, me levou pela mão para o cinema que havia na vila, em São Paulo. Para ver “Isto é Pelé”. Cinema lotado. Assistimos num espaço ao lado da sala de projeção. O Santos volta e meia jogava no Pacaembu, Morumbi ou Parque Antártica. Zé Luis nunca foi vê-lo ao vivo. Vi duas vezes, por obra e generosidade de parentes. Na primeira, que nem lembro o resultado, um lance ficou marcado para sempre, algo normal, mas ficou. Um passe de uns cinquenta metros que ele deu, bola branca voando na noite e caindo exatamente no pé esquerdo de Edu, que não precisou se mexer nem um tico para receber. Na segunda, o Santos perdeu para o São Paulo e transformou meu único irmão, Ricardo, em torcedor do outro time. Isso é o futebol. Anos mais tarde, entrei pela porta da profissão neste mundo – e me encontrei pessoalmente com Ele duas vezes. Na primeira, levei um tesouro embaixo do braço: LPs com as narrações das três copas do mundo que ele ganhou. Me presenteou autografando-os. Na segunda, um pouco mais recente, fiz o Rei cair na gargalhada depois de perguntar se era verdade que o Santos daquela época era o melhor de todos os tempos. Ele: “Dizem, né?”. Estiquei o braço direito, ergui o dedo indicador e fiz o gesto negativo acompanhado de um ‘nananinanão’. Ele entrou rápido na jogada e perguntou quem era, então. Respondi: Clube Atlético Paranaense, o meu, obviamente. Falar do Rei dentro de campo não é preciso, apesar de muitos das gerações mais jovens duvidarem até do que assistem nas imagens de tudo que Ele fez para ser reverenciado no planeta. Pelé jogaria tudo aquilo hoje?, perguntam os que ainda não descobriram que a bola é redonda. A resposta eu ouvi do saudoso Dirceu Krüger, que jogou contra Pelé e ficou dentro do estádio Couto Pereira durante toda a vida trabalhando no Coritiba, acompanhando de dentro o futebol: “Jogaria de costas”. Consegui um autógrafo para o Zé Luis numa foto onde Ele aparece ao lado de Didi. Meu pai não teve tempo de receber o presente. O que Zé Luis me deu foi aquele de me levar para ver o primeiro filme sobre o Rei, que hoje completa 80 anos de uma vida que será eterna. Isso porque, antes de tudo, ouviu o conselho de Dondinho, seu pai, quando saiu de Bauru e, ainda criança, foi para a Vila Belmiro: “Cuide do seu talento”. Pelé cuidou e ensinou, treinando sempre, que a perfeição é uma meta, mesmo para um deus como ele.

2 ideias sobre “ELE

  1. SERGIO SILVESTRE

    Pele,Beatles,Didi,Elvis,Coutinho,Stones,Rivelino,Roberto,Tostão,Chico,Jairzinho,Caetano e por ai vai.
    Hoje me contento meio que resignado tendo que escutar sertanejo universitário e o futebol mecanico europeu.
    Acabou as ilusões.

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