Por Reinaldo de Almeida Cesar
Nesta semana, Ponta Grossa ficou em choque com o prematuro falecimento de José Lievore, levado pelo flagelo da Covid. Empresário muito bem relacionado, era fortemente ligado a atividades de voluntariado e genuinamente admirado por todos. Devo a ele uma palavra de gratidão. Num sábado pela manhã, há muitos anos, toca a campainha da casa dos meus pais. Até aí, nada de mais. Era quase uma rotina isso acontecer várias vezes ao longo do dia. Morando há cinquenta anos na mesma casa térrea ao lado da Santa Casa de Misericórdia, e tendo a intensa vida comunitária que sempre tiveram, era muito comum meus pais serem procurados por pessoas de origens tão diversas quanto eram os assuntos que traziam – não raras vezes com angustiadas demandas. Porém, nesse dia, foi diferente. Quando minha mãe abriu a porta, uma enorme surpresa. Lá estavam o José Lievore acompanhado do ex-prefeito Otto Cunha. Abro um parênteses. Na juventude, meu amado pai tinha sido colega de CPOR do Otto Cunha, eram amigos desde então. No entanto, a política os afastou, tornaram-se tradicionais adversários em eleições, durante muitos e muitos anos. Era uma rivalidade ruidosa e conhecida por toda a classe política do Estado. Isso incomodava a mim e aos meus irmãos, que sempre fomos amigos dos filhos e sobrinhos das famílias Frare e Cunha. No fundo, tenho certeza que incomodava também aos meus pais. O fato é que, depois de muito tempo de animosidade e rápidos encontros apenas em ocasiões solenes, lá estavam agora o Djalma de Almeida Cesar e o Otto Cunha se reconciliando, em abraços emocionados, na sala da casa onde vivi minha infância, tendo como testemunhas minha querida mãe e o José Lievore. A razão da visita era para convidar meu pai para ser a figura política a ser homenageada naquele ano, numa tradicional feijoada beneficente promovida pelo José Lievore, que era absoluto sucesso de participação e engajamento, pela causa social que representava. Meu pai ficou tão feliz com aquele encontro que, tão logo eles saíram, de pronto ele me telefonou para me contar a novidade. No seu relato ao telefone, senti nele uma imensa felicidade e a leveza da alma. Dias após, ele esteve no evento e recebeu a homenagem. Pouco tempo depois disso tudo, meu querido pais se foi, vitimado por um trágico acidente. Nunca pude agradecer pessoalmente ao José Lievore, não somente por aquela homenagem, mas sobretudo por ajudar a restaurar a amizade entre amigos que, mesmo afastados, nunca perderam a estima e o respeito recíprocos. Obrigado, Zé Lievore. Descanse em paz.