7:55Fábula Sem Moral

por Fernando Muniz

Do alto da pedra em que reinam sobre a savana, o leão e seu séquito de leoas e filhotes observam o sol nascer.

Rente ao chão, uma manada de antílopes masca o gramado, em uma paz tensa, de rabo de olho, à espera de qualquer movimento brusco dos predadores.

O leão, em sua indolência, solta um bocejo; é o sinal. Duas leoas escolhem a presa, descem da pedra e avançam sobre a manada, prontas para reclamar o que entendem ser delas, desde o tempo das avós de suas avós.

Os antílopes, embora em muito maior número, disparam para todos os lados. Pânico, poeira, guinchos e, em instantes, as leoas resolvem o assunto pendente, para o assombro dos filhotes que, ali da pedra, aprendem como a vida e a morte, irmãs siamesas, ditam os destinos na savana.

O dia avança e aos poucos a manada de antílopes retorna ao mesmo lugar, ao mesmo pasto e à mesma vigília tensa, junto àquela pedra, ao abrigo dos ventos, raios e chuvas. São tantos na manada, afinal; o sacrifício de um ou outro, ainda mais por quem reina sobre a savana, é certeza que espanta o medo de serem trucidados a esmo, por uma chita ou por um leopardo qualquer.

O leão termina de comer e se distrai vendo as brincadeiras dos filhotes, extasiados com a potência das suas presas e garras, que mal sabem usar. Logo se cansa e dá outro bocejo; de fastio.

Olha para a savana, a essa altura banhada pelo sol quente. Sua juba, que se destaca no alto da pedra, causa admiração e temor; as leoas o servem, os filhotes querem um dia ser quem ele é.

Ninguém percebe, mas ele mira o vazio. De tanto meditar sobre o ciclo dos dias, não consegue mais se contentar com respostas fáceis. E solta um sussurro, que ninguém presta atenção.

“Estamos aqui por mero capricho”.

Da Natureza.

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