DIÁRIO DA PANDEMIA

(*) Mais uma vez abandonei o corpo de Marylin na lixeira. O que restou do corpo de Marylin. Talvez por remorso, talvez sei lá. E mais uma vez recolhi o corpo da desditada. O arrependimento é a coisa mais inútil da vida. Não nos leva a nada, à redenção, à paz de espírito, nada. Arrumei no sofá o que restou dessa que por fugaz momento fez companhia à minha solidão. O rosto está bastante prejudicado, um olho nem existe mais, os cabelos louros e lisos estão negros e pixaim. Eu a vesti com óculos escuros, no pescoço um lance vermelho-fogo que nem eu vi num filme com a Catherine Deneuve. Daí pra baixo não lhe vesti nada porque não tinha o que cobrir. O cachorro estranhou a triste figura e mostrava sua estranheza rosnando, o rabo entre as pernas. Eu dizia: “é amiguinha, é amiguinha…”.

(*) Não contei no dia. Conto agora que é pra data não passar batida. Já estou escutando bem melhor, e não tenho mais o tremelique que me acometeu após o grito. Foi o seguinte: Estava eu reassistindo o último filme com Marylin Monroe, um filme muito triste, por sinal. E ia dar o primeiro gole no café passado indagorinha. Quando sem aviso prévio todo o condomínio se uniu num grito só, um lamento de fera em agonia, me arrepiei todo. Foi quando me lembrei que todo dia 12 as vozes de todos nós se unem num grito de pânico, de desesperança, um grito pedindo socorro. Mas, quem há de nos socorrer se nosso líder é o próprio Coelho Maluco, cuja meta é seguir somente a rainha do Norte!

(*) Um capitão triste e um barquinho que ele queria para si. Não sabia navegar, mas queria para si o barquinho que era de todos. Um capitão louco e um barquinho que nem era dele, alguém tinha emprestado. Então, ele pegou o barquinho e deitou-lhe fogo. Se não o deixavam brincar com seu brinquedo, então ninguém brincava mais. Era um capitão triste e ele tinha um sonho: explodir tudo.

GRANDES PENSAMENTOS DE EDIR MACEDO: “Quando você traz a sua oferta pra igreja, Deus fica na obrigação de te abençoar”.