por Ruy Castro
Novo livro sobre a cantora minimiza ‘um dos períodos mais felizes de sua vida’
Janis Joplin, estrela do rock morta há 50 anos, acaba de ganhar uma biografia de 400 páginas, “Janis Joplin: Sua Vida, Sua Música”. A autora, jornalista Holly George-Warren, dedica quatro páginas à sua vinda ao Brasil no Carnaval de 1970, seis meses antes de morrer. Janis ainda não era tão famosa, donde pôde circular com desenvoltura pelo Rio e por Salvador durante semanas. E adorou.
Em entrevista ao repórter Thales de Menezes no dia 4 último, Holly disse que, para Janis, sua estadia sem compromissos entre nós foi “um dos períodos mais felizes de sua vida”. Meses depois de voltar para casa “ainda falava a toda hora no Brasil”, tanto para a revista Rolling Stone quanto em talk shows de TV. Nem suas triunfais excursões a trabalho na Europa tinham-lhe provocado “o mesmo entusiasmo que o Brasil”. A escritora não tem dúvida de que, se tivesse sobrevivido, Janis viria morar aqui. “Ela falava isso, estava decidindo em que lugar do Brasil gostaria de morar”, afirmou.
Puxa! Tanta vibração, euforia e felicidade —a apenas seis meses da morte da biografada por uma overdose de álcool e heroína—, e tudo resumido em quatro páginas num livro de 400? Thales perguntou a Holly sobre isso. Ela admitiu que “tinha muito mais a dizer sobre a viagem”, mas seus editores consideraram a versão original “muito longa” e ela teve que fazer “alguns cortes”. Modéstia de Holly. Ela amputou seu livro de um período essencial.
Uma biografia submetida a esse tipo de corte torna-se automaticamente suspeita. O que mais a autora deixou de fora?
Há anos, uma importante editora de Nova York interessou-se por minha biografia de Carmen Miranda. Eu só teria de cortar 30% do livro, de preferência “a parte sobre o Brasil”. Agradeci e recusei. Se aqui devoramos a vida de qualquer roceiro do Utah ou do Idaho, não é justo que os americanos nos considerem tão indignos de suas páginas.
*Publicado na Folha de S.Paulo