DIÁRIO DA PANDEMIA
(*) Não está fácil pra ninguém. Arrematei num leilão, na Califórnia, esta garrafa magnum do Premier Grand Cru Latour, safra de 1961. Paguei sessenta e dois mil dólares. Penso degustá-lo hoje mesmo. Não se compara ao branco Chateau d’Yquem 1881 que o Christian Vanneque (1914-2015) arrematou por 79.900 euros. Levou a peça, mas nunca chegou a degustar o vinho – se é que ainda estava inteiro. Digo, o vinho; porque o Vanneque, este não iria longe. O vinho ninguém tomou e encontra-se até hoje num restaurante em Bali, por trás de um vidro à prova de balas. Sonha, lazarento, sonha, o teu tá guardado.
(*) Não podia deixar de registrar a existência de um animal que espanta meu sono. Alguém, num dos apartamentos que não sei, dorme com um bezerro desmamado atolado na garganta. Durante a noite inteira, o pobre animal clama pela mãe, num apelo sofrido que corta meu coração. Durma-se com um barulho desses. Sabe-se de fonte segura que para debelar o ronco deve-se encher a boca do penitente com sal, de preferência sal grosso. Esse medicamento pode ser substituído por areia da praia. Não se sabe se funciona, mas é uma ideia.
(*) Tem dias que sou eu mesmo, tem dias que não me reconheço. Tem dias que chego e fico, tem dias que me despeço. Dias que me valorizo, dias que não me mereço. Dias que me vendo fácil, dias que não tenho preço. Qualquer dia me meto a fazer letra para música gospel e aí quero ver alguém torcer o nariz.
GRANDES PENSAMENTOS DINAMARQUESES: Gronlandsk ordsprog hvis man fortieret spogelse, vokser det sig storre, que traduzido fica: “Se você calar um fantasma, ele só vai crescer”. Se alguém entendeu me dê uma luz, que fiquei nas trevas.
Fantasma se relaciona ao passado, quanto mais vc tenta fingir dele, mais ele fica presente.