Nós, os carecas, já fomos cabeludos e malucos. Beleza? Hoje, quando falam na fogueira amazônica, lembro que singramos o Rio Madeira de Porto Velho a Manaus – e de lá até Belém, parando em Santarém, mochila nas costas e dormindo em sacos de dormir embaixo de um céu de redes coloridas. Ver o peso disso é só imaginar ver, numa noite de breu,do outro lado do mar de água doce, um transatlântico todo iluminado indo em direção contrária. Imagem de Fellini, só que muito mais linda, porque real. Um dia, num vilarejo escondido na floresta, alguém perguntou se pertencíamos a uma banda de rock. Mas também falou que eu tinha olhos de assassino. Pensei que era bandido e que imaginava sermos policiais federais disfarçados, com nossos cabelos batendo no meio das costas e barbas enormes a nos esconder as feições. Respondi que sim, que éramos músicos e tocávamos num grupo. Quis saber o nome. Dei: Banda Cósmica da Natureza Singela. Ele riu – e ficamos todos em paz naquela imensidão.
O silencio das noites úmidas,nas florestas sem fim ,só se escuta o troar das cachoeiras imaginarias que zumbem sem parar nos meus ouvidos