19:11ZÉ DA SILVA

Tinha os poemas, mas sem penas – e não voei. Não gostava. Tinha concreto no sangue e a alma vivia pendurada por um fio, bem fora do corpo. A mente era um bunker sem entrada – e muito menos saída. Líquidos, fumaças, brilhos, nada penetrava. Quando menos esperava, uma palavra entrou. Era o dia, a hora, o segundo, o momento decisivo como na fotografia de Cartier Bresson, que sempre aconteceu antes do clique para transformar-se no verdadeiro mistério do mistério. Não foi preciso piscar para saber se era real. Era. É. Então chegaram os versos como se fossem um vendaval a limpar com carinho todos os caminhos disponíveis no terreno antes ocupado pela construção impenetrável. O resultado foi um sorriso da senhora alma, que retornou mansa ao envólucro do corpo. Agradeci.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.