10:39Borboletinha

por Sergio Brandão

A pequena borboleta está morta no penúltimo degrau da escada de casa. Imagino que tenha sucumbido à luz quente que deve ter assado seus miolos à noite. Pego o que restou da sua carcaça e levo ao lixo. 

Mas parece que alguém sopra em meu ouvido que ela ainda vive. Me aproximo e vejo seus dois olhinhos estalados – e não parece ter mais vida ali. Mesmo assim desisto do lixo … abro a janela e a coloco no beiral da varanda. Ela não se mexe. Está mesmo morta, concluo.

Teve um primeiro movimento. Achei que era resultado do vento, mas não. Ainda havia um sopro de vida. Podia ser seus últimos momentos,  tirando a bichinha de uma agonia que deve ter durado horas, mas logo suas asas começam a se movimentar, lentamente.Como quem sai do coma.

Ela parece sem força suficiente para continuar com a cansativa tarefa. Tenta uma segunda vez. Percebo que faz muita força para conseguir movimentar as duas asas.  

Consegue…  movimenta agora todo o corpo. Fixa os pés no parapeito, firma as perninhas que perecem tremulas – ainda sem firmeza. Me aproximo e vejo que seus olhos ganham vida.  

Faço força junto com ela. Conseguimos chegar na beirada do parapeito. Sem que eu a toque, segue sozinha na sua luta pela vida. 

Parece que estávamos sintonizados.  

-Agora é só alcançar a beirada do parapeito e sair para o salto. – digo baixinho.   

 – O resto é com você, suas asas dão conta do resto, dona borboleta. Força, menina. 

Ela segue. Parece uma eternidade. Talvez em um minuto ela alcança finalmente de onde deve iniciar o salto. Estamos a uns 6 ou 7 metros do chão da garagem. 

 -Vamos menina, o pior já foi!  

E não é que ela foi ???!!!  

Voou, ganhou asas e se foi! 

Estava vivinha da silva! 

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