11:02Sobre as eleições municipais

por Claudio Henrique de Castro

O Brasil tem trinta e três partidos políticos. Cada um deles é uma máquina cujos donos não abrem mão de mandar e desmandar em prol de seus interesses.

As siglas são como famílias monárquicas para comandar o estado brasileiro.

               O fundo partidário deste ano é de 2 bilhões de reais. A distribuição varia de 201 milhões a 1 milhão de reais para cada um destes afortunados.

                Parcela considerável dos partidos tem inconfessáveis interesses religiosos, outra parcela são verdadeiras famílias e a maioria representa interesses de grupos econômicos.

               A escolha de candidatos é uma trama que antecede as convenções. Estas são realizadas meramente para sacramentar o que os caciques partidários decidiram.

Quem tem a chave do cofre?

Normalmente, os tesoureiros que pagam publicitários e, mais modernamente, as empresas de tecnologia para distribuir propaganda digital e fake news.

Há caixa dois?

Ninguém admite abertamente isto, seja pelas divisões de salários dos funcionários ocupantes em cargos em comissão, seja pela fraude em licitações com a desculpa de que a mala de dinheiro irá para as campanhas eleitorais.

Nas cidades brasileiras, os grandes orçamentos são para as licitações de transportes públicos e para a coleta de lixo.

O transporte público é coalhado de denúncias e sua qualidade está muito aquém do que é regiamente subsidiado pelos cofres públicos.

A coleta de lixo é outra falácia. Há no Brasil 3 mil lixões espalhados por mil e seiscentas cidades.

O que esperar das campanhas eleitorais? Nada.

               O povo nas eleições é um inocente útil: vota, elege e entrega a representatividade, que é um cheque em branco, para os donos do poder.

               Diferente de algumas democracias no mundo, o autoritarismo à brasileira cresce a passos largos – nunca o discurso pela ditadura foi tão presente.

                Há um desencanto pelas falácias das políticas públicas, pela malversação dos recursos e pelos escândalos que se tornaram rotineiros.

                Neste cenário, crescem os discursos por acabar com tudo, que nada presta e que o estado deve ser demolido, entregue para a iniciativa privada.

                Na pandemia as populações se aperceberam o quanto o Estado é vital para a sociedade, seja pelos hospitais públicos, pela educação, pela pesquisa científica, por organizar a economia e zelar pelos orçamentos.

                Não temos no Brasil a possibilidade jurídica das candidaturas avulsas, isto é, daqueles que rejeitam os conchavos partidários e poderiam se lançar candidatos sem sigla partidária.

                Também não temos a rechamada, que acontece quando políticos fazem justamente o contrário do que foram eleitos e o povo volta a se manifestar sobre a sua imediata saída.

                O voto obrigatório fere a liberdade de não participar.

                O povo não decide quem serão os candidatos nos partidos pois é uma escolha entre a seleta de candidatos aparentados e afiliados dos patrões políticos.

                Durante o mandato não há democracia direta, nem plebiscitos nem referendos nem escolhas dos temas que o povo poderia propor na mesa política, apesar dos avançados meios digitais de que dispomos na atualidade.

O povo é o provedor dos recursos por meio dos tributos e é cada vez mais espoliado pelo sistema econômico concentrador de renda e distribuidor privilégios aos bancos e corporações.

Neste cenário, a da centenária drenagem de recursos, os filhos da classe média brasileira estão fugindo para o exterior diante da insegurança pública e do crescimento da pobreza estrutural.

               As eleições se sucedem e muito pouco se altera na estrutura social brasileira São ritos de passagem para a continuidade do caos no qual mergulhou o Brasil.

                Não há planejamento, nem projeto.

Os discursos são moldados pelas pesquisas de opinião.

Vota-se por carisma, simpatia, beleza ou outro motivo qualquer que os publicitários sabem identificar muito bem.

Em resumo, temos uma democracia sem povo e sem fins públicos.

Ruim com ela, pior sem ela.

Fontes:

http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/arquivos/tse-recalculo-do-fefc-para-as-eleicoes-2020-em-17-06-2020/rybena_pdf?file=http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/arquivos/tse-recalculo-do-fefc-para-as-eleicoes-2020-em-17-06-2020/at_download/file
http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2020/Junho/divulgada-nova-tabela-com-a-divisao-dos-recursos-do-fundo-eleitoral-para-2020

2 ideias sobre “Sobre as eleições municipais

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