Da FSP
Morre o jornalista e documentarista Washington Novaes, aos 86 anos
Com passagem pela Folha, entre outros jornais, Novaes era referência no jornalismo ambiental no Brasil
Referência no jornalismo ambiental no Brasil, o jornalista Washington Novaes morreu na noite da segunda-feira (24) em Aparecida de Goiânia (GO), em decorrência de uma infecção após uma cirurgia para retirada de um tumor no intestino. Ele havia descoberto o tumor em março e estava internado desde a semana passada.
Nascido em Vargem Grande do Sul (SP) em 1934, Washington Novaes se formou em direito, mas atuou como jornalista por mais de 50 anos. Nunca parou de escrever artigos, publicados recentemente para os jornais O Estado de S.Paulo e O Popular, de Goiânia (GO), onde viveu nos últimos 30 anos.
Sua carreira foi marcada pela série de documentários “Xingu, a Terra Mágica”, exibida na extinta TV Manchete em 1985.
A série faz uma imersão no modo de vida de diversas etnias da região do Xingu, na Amazônia, e ganhou prêmios em festivais internacionais de cinema.
Novaes voltou à região em 2007 para filmar “Xingu, a Terra Ameaçada”, que contou com um episódio sobre a liderança do cacique Raoni Metuktire, porta-voz global dos indígenas.
O jornalista foi editor-chefe do Globo Repórter (TV Globo), que sob seu comando levou a medalha de prata do festival de cinema de Nova York em 1982 pelo episódio “Amazonas, Pátria da Água”. Também foi editor do Jornal Nacional e comentarista do programa Globo Ecologia.
Ainda na televisão, Novaes foi comentarista e supervisor geral do Repórter Eco, na TV Cultura, e consultor de meio ambiente do canal.
Ele ainda passou pelas redações dos principais jornais do país, como O Estado de S.Paulo, Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Última Hora, Correio da Manhã, Veja e Folha de S.Paulo, onde foi secretário de Redação.
Foi autor de diversos livros, entre eles “Xingu” (Brasiliense), “A Quem Pertence a Informação” (Vozes) , “A Terra Pede Água” (Sematec/BSB) e “A Década do Impasse” (Editora Estação Liberdade).
Embora fosse um dos precursores do jornalismo ambiental, Novaes criticava o termo e preferia ser chamado apenas de jornalista.
“Chamá-lo de jornalista ambiental seria reduzi-lo a uma papel secundário. Foi um grande Jornalista, com inicial maiúscula, e uma grande referência para meu jornalismo”, diz o jornalista Dal Marcondes, fundador do site Envolverde e presidente da Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental.
Em uma breve passagem pelo governo, Novaes assumiu o cargo de secretário de meio ambiente do Distrito Federal entre 1991 e 1992. Ele dizia que deixou o posto assim que vislumbrou limites para sua atuação.
Retornou ao exercício do jornalismo e, no mesmo ano, ganhou o Prêmio Esso por uma série de artigos sobre a Eco-92, a conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável ocorrida no Rio de Janeiro, publicados no Jornal do Brasil.
Ainda nos anos 1990, foi consultor do primeiro relatório brasileiro para a Convenção da Diversidade Biológica da ONU.
“Washington Novaes é o responsável por eu, hoje, dentro do jornalismo, ter esse engajamento, esse interesse profissional pelos assuntos ambientais”, contou o jornalista da TV Globo André Trigueiro em live nas redes sociais.
“Ele me deu um nó na cabeça ao participar no centro do Roda Viva respondendo a perguntas como jornalista. Sem prejuízo da isenção e da imparcialidade, ele se posicionava com muito destemor, mostrando o que não estava sendo objeto da devida atenção e cuidado”, conta Trigueiro. “Foi valente”.
Entrevistado pelo programa Roda Viva (TV Cultura) no ano 2000, Washington Novaes foi questionado pelo então senador Blairo Maggi sobre se ele achava que todos deveríamos viver como índios. “Não, nós não teríamos competência para isso”, respondeu Novaes. “Mas nós poderíamos aprender com eles.”
Novaes deixa os filhos Pedro, Marcelo, Guilherme e João, a mulher, Virgínia, e sete netos.