DIÁRIO DA PANDEMIA
(*) Marylin, minha boneca inflável, foi tirada do castigo. Não falava muito e quando falava não dizia coisa com coisa. Pior do que o matraquear dela era o silêncio: olhava com crítica para as roupas por passar, para a pia cheia de louça e principalmente para a tampa da privada que eu sempre deixava levantada. Nunca levei Marylin a encarar o John Kennedy face a face. Em compensação, ela nunca cantou parabéns pra você para mim.
(*) O ofurô do capitão voltou. Voltou sem pompas e muito menos circunstâncias. Não vi a chegada triunfal porque a entrada para o bloco dele fica fora do meu alcance. Os dois estão que nem pinto no lixo. Essa noite mesmo foi registrada a ocorrência do santo banho. Digo santo banho porque os dois passaram a recitar textos bíblicos na hora do banho. Eu ia dizer na hora do vamos ver, mas banho fica mais educado. Um diz que “só o teu cajado me reconforta” e o outro responde que “só tua vara me conforta”. Fico meio constrangido de ouvir essas coisas, mas religião é uma coisa que eu respeito.
(*) A ema, que agora passa a ter foro privilegiado na atual dministração, desautorizou o uso de ozônio nos buraquinhos. Diz que primeiro é preciso dar vazão ao estoque de croroquinhas, e nisso justifica a política daquele menino, me esqueço o nome dele. Quando a ema disse que pajelança é um troço muito sério, logo vi que estava a defender o patrão. Desde que foi alçada a Ministro de Estado não bica mais o garoto. Mas, tenho percebido uma nuvem de tristeza pairando sobre as ralas penugens da cabeça. Ela queria sua imagem na nota de duzentão, mas a hiena tinha prerrogativas. Fica a imagem de um cachorro meio selvagem, meio mal vestido, bem a cara do Brasil. Tudo irá bem se aquele menino sapeca não confundi-la com uma das suas galinhas.
FRASE DE JOÃO GUIMARÃES ROSA: Sapo não pula por boniteza, mas porém por precisão.