por Roberto Prado
Até bem pouco tempo a gente sofria com gosto, pois o Brasil era o país do futuro. Éramos maltratados, sim, até mais do que hoje – é preciso reconhecer. Mas a antiga desgraceira tinha um significado maior, que justificava todo sacrifício: logo logo, assim que entrasse uma graninha, isso aqui ia virar um Canadá sem gelo, um EUA sem caretice, um Japão sem disciplina marcial, uma Europa sem mofo, uma Austrália sem tubarões.
Bastava à nossa população – composta por gente amiga, criativa, cordial, bem-humorada e cheia de amor para dar – esperar, sentada ou com o cabo da enxada na mão, o advento do grande porvir, pois o destino, glorioso, já estava traçado.
Movidos por essa certeza absoluta, defendíamos nosso modelo tropical de civilização com fé cega, digna de homens-bomba, dispostos a morrer antes de ver a pátria invadida pelos batalhões da razão, do bom senso e da inteligência.
E o futuro, ficou para amanhã? Talvez a gente tenha passado direto por ele, sem reconhecer. Talvez, como bom brasileiro, o futuro seja um tremendo gozador e esteja brincando de esconde-esconde. Talvez a glória prometida, no final das contas, seja esse eterno vir a ser, esse mais ou menos. Talvez, quem sabe.
Como um pesadelo repetitivo, rodado em câmera lenta, vimos as culpas pelo atraso do nosso futuro se tornarem enredo de interminável desfile de carnaval. A Grande Culpa dos Americanos. A Culpa do Populismo Trabalhista. A Culpa da Esquerda Desunida. A Culpa do Presidente Bebum. A Culpa da Direita Sinistra. A Culpa da Crise do Petróleo. A Culpa da Transição Democrática. A Culpa da Inflação. A Culpa da Dívida Externa. A Culpa do FMI. A Culpa da Imprensa Golpista. A Culpa da Ladroagem. A Culpa do Vírus. A Culpa dos Outros. A Nossa Máxima Culpa.
Carros alegóricos de todas as cores, carregados de culpas, ano após ano, lançaram seus refrões grudentos, até as desculpas esfarraparem por completo e desfilarem peladas diante dos foliões.
Para finalizar, as boas notícias. A ciência descobriu que a tal mania de “país do futuro” era na verdade uma sequela de verminose. Não passava de paranoia esquiso-psicóide causada por cisticercos, ou “caroços” da Taenia solium alojados no cérebro de grande parte da população daquela época. Para evitar a doença é recomendável que você, além de proteger seu milharal da invasão de javalis,catetos e queixadas:
1)Verifique criteriosamente a procedência dos
porcos.
2) Frite os suínos duvidosos em fogo alto.
3) Não frequente chiqueiros.
4) Não fuce na lama.
E, para completar a higiene, pare de acreditar em qualquer porcaria que lê nas redes sociais.
Muito bom esse texto aí, só podia ser coisa desse tal Zebeto.