DIÁRIO DA PANDEMIA
- Mas esse serviço de delivery, meu Deus, está cada vez pior. Peço trompas de eustáquio e me entregam trompas de falópio. Vizinha pediu um capitão de fragata, recebeu uma foto da cloroquinha do presidente. Liguei ao restaurante para saber se tinha ensopado de pirarucu, e o atendente foi muito grosseirão: “Claro que foi tirado”. Todo mundo nervoso, sei lá, deve ser a pandemia.
- Mantenho animado papo com meu outro eu quando estou no chuveiro. Mas, hoje me entusiasmei, porque um eu era bolsonaro e o outro eu era meio cumunista. A coisa chegou a ficar feia. Certo momento, abandonei o banho e mandei pra dentro dez pílulas de cloroquina. Meu o eu cumunista guarda os Mentex no pote onde escrevi o nome da pajelança.
- Vizinho bateu na porta perguntando se eu não tinha encontrado um bilhete onde estava escrito o que é teu tá guardado. Respondi com um rosnado, e ele me disse que o bilhete não era para mim, que tinha sido engano. Bati-lhe na cara a porta que nem sequer tinha aberto e respondi “pois se não era para mim, foi!”. Eu sou assim.