8:24NELSON PADRELLA

DIÁRIO DA PANDEMIA

  • A vizinha de cima, todo mundo chama ela de Mia, foi o seguinte. Me deu vontade de provocar. Fui até lá e falei pela porta fechada: “A senhora faz pão pra vender?”. Ela achou estranho e respondeu que não produzia alimentos.”É que todo mundo comenta sobre pão de Mia”. Ela disse que não achou graça nenhuma. Pra falar a verdade, nem eu.
  • O pessoal do delivery traz tudo pra gente. Esse serviço facilita nossa vida de confinados. Traz tudo, só não traz coisa. O orégano vou ter que batalhar eu mesmo.
  • Depois de velho, quem diria que ia exercer Medicina Veterinária. Ouvi – foi por acaso – vizinho se queixando de dor na anca, e eu me intrometi e perguntei se tinha cavalgado muito. Eu precisava saber para poder oferecer um diagnóstico seguro. Respondeu que não montava a cavalo. Eu sei – respondi – preciso saber se o senhor transportou alguém no lombo. Em todo caso, receitei boldo quando fosse comer sua alfafa, vamos que fosse o fígado. Outro vizinho se queixava de dor de cabeça e outras queixas correlatas. Não me foi difícil diagnosticar a febre da vaca louca. Receitei porções generosas de feno e milho, o que não mata engorda. A menina do Freitas estava se queixando de enjoos, eu diagnostiquei na lata: Tá prenha. Espero que lembrem de me pagar pelas consultas.

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