por Thea Tavares
Tem sempre uma lua em cima da sua cabeça…
Assim como a visão, com o passar do tempo, a memória da gente também embaça, fica turva e se diverte com isso.
A sensação é de que misturam-se lembranças a sentimentos, com projeções e com reinvenções da realidade. Numa tentativa malandra de adaptar os momentos vividos às nossas vontades.
Saber disso não carrega em si o peso dos arrependimentos, não. Tem mais a ver com aquele desapego que vamos adquirindo às convenções e aprisionamentos erguidos e sustentados ao longo da vida. Tem a ver com a liberdade criativa da maturidade e com aquela travessura de, finalmente, poder dar asas às mais simples vontades, sem prestar contas a ninguém, pois o mundo já nos permite afrouxar os nós. Até se diverte com isso. A exemplo dos avós que estragam os netos como não se permitiram fazer na rígida criação dos filhos. Passaram o bastão a estes.
Mas nesse passeio pelas memórias da gente, volta e meia nos deparamos intrigados com situações que não sabemos ao certo se são integralmente lembranças ou se há muitas e mais reinvenções nisso… Por termos guardado, junto com os acontecimentos – sem registrá-los com o rigor de quem valoriza materializar tudo -, desejos e abstrações.
Queria ter dito isto, feito aquilo, assim e assado… Cabe nessa bagagem também aquela melhor resposta que a gente não deu. É justamente a que o subconsciente armazena e consagra. E, assim, o mundo narrado vira palco de um eterno reviver.
Nada do que posso me alucina
Tanto quanto o que não fiz
Nada do que quero me suprime
Do que por não saber, ‘inda não quis.
(Jura Secreta – Sueli Costa e Abel Silva)
Por isso, a história oral precisa ser muito bem checada. Uma vez contada, traz toda uma carga de sentimentos que permearam aquelas lembranças. Falou em sentimentos e esse mundo de significados de concretudes já liga seu alerta, relativiza, questiona, duvida.
Mas a sinceridade e veracidade das memórias não residem no que aconteceu, mas também no que se sentiu a respeito. Essa parcialidade é que segue em frente e vai inspirar poemas, canções, prosas literárias e as contações de histórias. Suassuna sabia disso e nos presenteou com o bordão do Chicó: “só sei que foi assim!”. Não teria o brilho e o encanto humano que carrega se fosse diferente.
Não vou levar adiante nenhuma informação realista e tacitamente afirmativa da cena que memorizei, até porque me faltam essas referências e a vontade de vasculhá-las. Só sei que tem uma lua imensa em cima de você, que ilumina sua cabeça. Só você não sabe, não percebe e, por isso mesmo, sequer sente a sua presença.
Pois é,minha geração deve ter sido a das crianças felizes.Os dias eram intermináveis,preenchia eles com muitas travessuras,o embornal sempre cheio de bolotas,o desafio do lago,onde um dia queria atravessar a nado.
.Catava-mos cobre,alumínio,e garrafas vazias,cheguei a ter um tesouro enterrado no fundo do quintal e tinha até um mapa imitando os piratas dos filmes da época.
Conheci,um capeta em forma de guri,era a tradução da época antes da chuva de criatividade a seguir,Elvis,Beatles,Roberto Carlos,Chico,Gil e ficaria aqui enumerando tantos que encantaram essa época de ouro,talvez foi o clímax do planeta.
Pois é,era tanto romantismo que até os irmãos metralha queriam pintar a lua de preto,as historias de Disney eram um dos tesouros que eu guardava como se fosse a moedinha numero um do Tio Patinhas.
E hoje hein,pobres crianças que pedem um celular para os pais para ficarem pro resto da vida presos nele,e nunca vão observar um seu estrelado e sim os emojis coloridos de uma tela fria.
Abrir uma garrafa de vinho….neste bunker e apreciar a lua do bem, da inspiração do desejo.
Viver intensamente a prosa do modo tátil. Com olhares e atitudes além de palavras.
Sergio, pelo visto, temos aí um forte candidato a cronista do cotidiano!
Jak, não recomendo sair de casa agora, mas tão logo isso seja possível, ‘vei’, acho que valeria a pena agendar uma consulta médica para o tratamento da moléstia. Tem tratamento!