16:23NELSON PADRELLA

DIÁRIO DA PANDEMIA

  • A mãe vinha me bater e meu avô catalão intercedia, fingindo de zangado comigo e, dedo em riste, dizia que eu ia receber um esporro em Guarani. E dizia com sua voz grossa de avô coisas como Êh, piá! Ibirá puitá, caxinguelê, piriri conegunda, tamoio, araripe… e a mãe segurando o riso e esquecendo de me bater. Agradeço até hoje ao povo da mata pelas surras que não tomei.
  • Nas noches de luna llena o Trio los Panchos costuma abrir sua voz dentro do armário da louça, cantando aqueles boleros que machucaram minha adolescência. Na gaveta do guarda-roupa minhas anáguas ficam loucas, se torcendo de paixão.
  • Meu quarto cheio de ausência de pipas e rabiolas, um menino fazendo cerol, o céu cheio de azul onde batalhas eram travadas no tempo dos oito anos.

2 ideias sobre “NELSON PADRELLA

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.