19:41ZÉ DA SILVA

Mandou encostar no canto da parede. A sala de aula era toda em madeira. Primeiro, fiquei rubro, como no dia quem que, ali mesmo, caí porque levantaram o assento da cadeira. Seria o tamanho da minha cabeça, ressaltada pelo corte “topete de bode” que meu pai ordenava o barbeiro fazer? Primeiro ano? Segundo? Não lembro da professorinha que mais tarde Maurici Moura eternizou com aquela canção. Sim, tinha o sino para a hora do recreio e saída. Ninguém me esperava. A casa era perto. O medo era o mesmo de hoje. Por isso chorei muito no primeiro dia de aula. Mas fui. Vou. No canto da parede o cheiro da madeira. Era pintada de verde. Fiquei todo o tempo ali, de costas para todos. Continuo. Depois, ninguém me acalentou. Alguns ainda tiraram sarro. Por que fui parar ali? Sim, uma bola de papel sendo devolvida. A professora virando-se bem na hora. Ser pego no flagra. Sempre. Sem saber o que fazer. Não fico mais vermelho. Apenas perco tudo, fico apenas com ar feito um joão-bobo pronto para levar porrada. Para piorar é que não tem mais aquela madeira para me inebriar.

2 ideias sobre “ZÉ DA SILVA

  1. Roberto Prado

    Se só apanha quem está devendo
    Por que bater
    Em quem está se batendo?

    (Grande texto, Zé!)

  2. SERGIO SILVESTRE

    Me fez lembrar o caminho da casa que morava-mos de favor com meu Tio Guera,rua de chão e bem ali a sede do “cordão dos pretos”,eu já tinha a tabua do muro de madeira solta,corria para o pé de goiaba e pegava alguma das frutas que seria meu lanche na escola.

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