Do correspondente em Brasília
Um grupo de jornalistas, devidamente emascarados e mantendo distância covidiana, conversava no Salão Verde da Câmara quando um deles, apontando para a estátua de Ulysses Guimarães, posicionada logo na entrada do plenário, exclamou: “Ele estava certo nisso também”. E completou o raciocínio. No plebiscito de 1993, enquanto Ulysses defendia com convicção a adoção do parlamentarismo, Quercia, Brizola e Lula se uniram contra, motivados apenas pelos seus projetos pessoais na eleição presidencial do ano seguinte. O resultado, todos sabemos. Houvesse o Brasil adotado o parlamentarismo – como ocorre com várias democracias modernas no mundo – ninguém estaria hoje quebrando a cabeça para encontrar fórmula para remover da cadeira a criminosa incompetência de Bolsonaro. Na barafunda atual onde se encontra o Brasil, é mesmo de se pensar se uma jovem democracia como a nossa comporta um presidencialismo com poderes imperiais, onde o chefe da nação acha que pode tudo, inclusive ser ele mesmo a própria Constituição, como bradou dias atrás o presidente, em pleno portão do Alvorada – em meio a perdigotos espalhados no ar.