por Greg Mariano
David era um bom, um ótimo redator publicitário.
Verbal, corajoso, destemido, politicamente idôneo e correto, conhecedor das palavras e de seu ofício. Conseguia criar cenários de fácil absorção para a persona que fosse – simultaneamente um homem da manteiga e da margarina, um verdadeiro e apaixonado idealista por qualquer ideia que houvesse. Conseguia chamar alguém de feio e de gordo numa peça publicitária, (principalmente os feios e os gordos), de feios e gordos, sem sequer mencionar os dilemas físicos e éticos da gordura e da feiura aos quais o produto seria uma solução – bastava salientar na propaganda alguém que não fosse feio e gordo, dando-lhe ares de bondade – um ethos do que está correto e do que feios e gordos não teriam (pelo menos que ainda não tinha antes de obter o produto). Nas peças destinadas aos magros e aos bonitos, o oposto moral e físico dos feios e gordos, era proposta a realização de que estavam a um passo de cruzar a fronteira rumo à feiura, e de que deviam sentir-se mal por fazerem julgamentos éticos aos feios e gordos, que ele mesmo nomeara: os seres ética e fisicamente inferiores.
O bem estaria logo ali, cruzando o mal. De forma que, se andasse demais, chegaria ao mal novamente – e em frente encontraria o bem, logo depois do mal.
Os feios e gordos tornariam-se os bonitos e magros, e os magros e bonitos os feios e gordos. No bem só se encontraria o mal, e no mal apenas o bem.
No bonito futuro que David criara para nós toda margarina é manteiga e toda manteiga é margarina. Você não encosta a língua numa sem sentir o gosto da outra.
Vivemos em tempos realmente iluminados.