por Nelson Rodrigues
– Está se deteriorando a bondade brasileira. De quinze em quinze minutos, aumenta o desgaste da nossa delicadeza.
– A toda hora, em toda parte, há íntegros que nos atropelam com sua integridade, há justos que nos humilham com a justiça, há castos que nos ofendem com a sua pureza. Raríssima uma bondade sem impudor.
– Convém não facilitar com os bons, convém não provocar os puros. Há no ser humano, e ainda nos melhores, uma série de ferocidades adormecidas. O importante é não acordá-las.
– Não há nada pior do que a crueldade do bom. Nas suas maldades excepcionais, o bom é capaz de invadir um berçário e chupar o sangue das criancinhas como groselha.